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Em entrevista ao CNB/GO, Katiuscia Christiane Freitas, gerente de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás, destaca a parceria com os cartórios para ampliar doadores e salvar vidas

A doação de órgãos salva vidas e transforma histórias. Em Goiás, essa causa ganhou força com a união da Secretaria Estadual da Saúde (SES-GO), do Tribunal de Justiça e dos Cartórios de Notas, que vêm ampliando o diálogo com a sociedade sobre a importância de manifestar, em vida, o desejo de ser doador.

À frente desse esforço está Katiuscia Christiane Freitas, gerente de Transplantes da SES-GO. Em entrevista ao CNB/GO, ela reforça a relevância de mobilizações como o Dia D da Doação de Órgãos, realizado em parceria com os cartórios, que ajudam a desmistificar tabus, orientar famílias e estimular a conversa em casa — passo essencial para que o consentimento familiar aconteça no momento certo.

Confira a entrevista na íntegra:

CNB/GO: Katiuscia, qual é a importância de ações como o Dia D para sensibilizar a população sobre a doação de órgãos em Goiás?

Katiuscia Freitas: Ações como o dia D promovem o debate sobre o tema e o interesse das pessoas em saber mais, tirar suas dúvidas, ver diante dessa questão da doação de órgãos o quanto é difícil a gente ter, hoje, o consentimento, e muitas vezes esse consentimento está ligado à falta de informação, ao desconhecimento desse processo. Então, são ações extremamente importantes que despertam na sociedade o interesse em falar sobre e, o mais importante, levar esse tema para dentro de casa

CNB/GO: Quais são os principais desafios enfrentados hoje pelo sistema de transplantes no estado?

Katiuscia Freitas: Eu considero que o principal desafio ainda é o baixo consentimento familiar. Hoje, a taxa de recusa do Brasil é de 45%, então, não é um desafio só do estado de Goiás, mas um desafio nacional. Aqui em Goiás a gente ainda tem essa recusa muito alta, números próximos a 70%. Então, o principal desafio é esse – diminuir a recusa das famílias.

CNB/GO: Como a parceria com os cartórios de notas, por meio da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO), tem contribuído para ampliar a conscientização e facilitar a manifestação de vontade dos cidadãos?

Katiuscia Freitas: A autorização eletrônica de doação de órgãos ainda é bem recente, então, está sendo divulgada e trabalhada pelos estados. Entretanto, é uma forma muito positiva de as pessoas manifestarem o seu desejo e deixar isso avisado para a família, não só através da fala, mas também através do registro, apesar de que, mesmo com o registro, quem decide é a família. Entretanto, dificilmente uma família nega a doação quando ela tem o conhecimento que o seu familiar gostaria de ser um doador.

CNB/GO: Na sua visão, de que forma a sociedade pode se engajar ainda mais para transformar a realidade das pessoas que aguardam por um transplante?

Katiuscia Freitas: Primeiro, o mais importante que a sociedade pode fazer é levar esse tema para dentro de casa, é conversar sobre esse desejo de ser um doador após a morte. Então, muitas vezes as pessoas não querem falar de morte, mas a gente precisa de falar sobre isso: deixar avisado que quando morrer gostaria de ser um doador. E, além disso, as pessoas podem solicitar e promover conscientização nas escolas, nas empresas. Todas essas ações contribuem para que a gente leve o tema para toda a população.

CNB/GO: Como a Secretaria de Saúde pretende fortalecer, junto com instituições como CNB/GO, as campanhas e ações de incentivo à doação de órgãos?

Katiuscia Freitas: A Secretaria de Saúde promove, ao longo do ano, todas as ações de concentração, palestras, treinamentos. Atingimos diversos públicos, entre eles, profissionais de saúde, de empresas, e também o público escolar. Nós temos o Setembro Verde como o auge da campanha – mês dedicado à sensibilização nacional com mais ações, mas promovemos ações durante todo o ano para fortalecer o debate sobre esse tema e para que as pessoas possam cada vez mais conhecer como funciona a questão da doação de órgãos e de discutir esse assunto em casa.

CNB/GO: Goiás acompanha a média nacional ou tem particularidades em relação ao número de doadores e transplantes?

Katiuscia Freitas: Goiás tem evoluído muito na questão da doação dos transplantes. No ano passado, tivemos um recorde de doadores da nossa série histórica do estado. Foram 114 doadores.  Estamos entre os 10 estados que mais realizam doação. Nós temos o Hospital Geral de Goiânia como referência no transplante renal. E oferecemos também o serviço de transplante de fígado, de pâncreas, de medula óssea. A intenção é cada vez mais fortalecer esses serviços e implantar novos serviços como o transplante cardíaco e o transplante pulmonar.

CNB/GO: Quais mitos ou desinformações ainda atrapalham a decisão das famílias em autorizar a doação de órgãos?

Katiuscia Freitas: Existem muitos mitos, muito desconhecimento em torno da doação de órgãos. Um deles é se o corpo tem que ser velado de caixão lacrado pelo fato de ser doador. Isso é um mito, na verdade, o velório acontece normalmente, não é necessário lacrar o caixão. Se existe alguma deformidade, vai deixar o corpo deformado após a doação, também não, é um procedimento cirúrgico, como qualquer outro. Então, há desinformação em torno de todo o processo, de não saber que o Brasil tem uma das legislações mais rigorosas para se chegar a um diagnóstico de morte cefálica, então, só é doador de órgãos quem tem a morte cefálica. Nos casos de doação por coração parado, são doados os tecidos, como as córneas.

CNB/GO: O que representa para o sistema de saúde ter a AEDO como uma ferramenta oficial, segura e registrada em cartório?

Katiuscia Freitas: Segurança e seriedade porque hoje um documento registrado em cartório mostra que realmente ele tem valor, então, por mais que esse documento não seja ainda considerado como decisivo para a família, ele mostra o quanto aquela pessoa queria ser doadora, a ponto de ter procurado um cartório para deixar esse registro.

CNB/GO: Qual é a mensagem mais importante que a senhora gostaria de deixar para as famílias que ainda têm dúvidas sobre a doação de órgãos?

Katiuscia Freitas: A mensagem mais importante é para que as pessoas tirem suas dúvidas, conheçam o processo, conversem sobre isso em casa. Oitenta mil pessoas aguardam por um órgão tecido no Brasil e ninguém de nós está livre de estar nessa mesma situação. Então, quando autorizamos a doação de órgãos, permitimos a continuidade da vida daquela pessoa através de outras. E a gente ressignifica aquele momento de dor em esperança para outras famílias.

CNB/GO: De que maneira o Dia D pode ser um ponto de partida para novas ações em Goiás?

Katiuscia Freitas: O dia D ele representa uma nova mobilização em torno da questão da importância da doação de órgãos. 2025 foi o segundo ano consecutivo realizado, e envolveu o Tribunal de Justiça e os cartórios. Acreditamos que ações como essa terão um alcance crescente junto à população.

Por Camila Braunas, Assessora de Comunicação do CNB/GO.

A Esperança Que Renasce: Conscientização E AEDO Na Doação De órgãos Em Goiás
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