Evento promovido pela Corregedoria do Foro Extrajudicial reuniu autoridades, especialistas e famílias para incentivar o registro da vontade de ser doador por meio da AEDO
O Colégio Notarial do Brasil – Seção Goiás (CNB/GO) participou do Dia D, evento promovido pela Corregedoria do Foro Extrajudicial no Auditório da Escola Judicial de Goiás (EJUG), em Goiânia, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos e, principalmente, sensibilizar os familiares quanto ao respeito à manifestação de vontade do doador.
A programação contou com a presença de autoridades, especialistas e famílias, todos unidos para compartilhar experiências de vida e esperança. A abertura foi realizada pela Dra. Soraya Fagury Brito, 3ª Juíza Auxiliar da Corregedoria do Foro Extrajudicial, e pelo Desembargador Anderson Máximo de Holanda, Corregedor do Foro Extrajudicial do Estado de Goiás.
Em sua fala, o Desembargador destacou a importância da parceria com instituições. “Essa pauta não é apenas de uma instituição, mas de várias. Quando nos dispomos a unir esforços — cada um com sua importância — alcançamos um objetivo comum. O Colégio Notarial do Brasil – Seção Goiás, o Hemocentro, a Secretaria Estadual de Saúde, os municípios e o Poder Judiciário mostram, juntos, a grandeza dessa soma de esforços para conscientizar e aumentar a adesão de doadores de órgãos. No ano passado, o Brasil registrou cerca de 30 mil doações, enquanto a necessidade é de 80 mil. Ainda estamos em déficit. Muitas pessoas permanecem na fila de espera, algumas até sem a esperança de voltar a ter saúde”, afirmou.
O primeiro painel teve como tema “Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos: inovação notarial a serviço da vida”, conduzido pelo Dr. Lucas Fernandes Vieira, presidente do CNB/GO, e Milton Alves da Silveira Junior, tabelião e registrador de Mineiros/GO. Lucas Fernandes compartilhou um depoimento pessoal e emocionante sobre um caso de leucemia em sua família, ressaltando a importância da dedicação dos profissionais da saúde e da solidariedade como forma de transformar vidas.
O segundo painel abordou o tema “Panorama Nacional e Estadual da Doação de Órgãos e Transplantes: desafios, avanços e perspectivas”, apresentado pela Dra. Katiuscia Christiane Freitas, gerente de Transplantes da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás. “É uma satisfação ter o Tribunal de Justiça e os cartórios de notas em prol da doação. Apesar dos avanços, Goiás ainda apresenta alto índice de negativa familiar, próximo de 70%. Isso está relacionado à desinformação, a mitos e tabus em torno da doação de órgãos. É essencial que as pessoas conversem em casa sobre o tema. Falar da morte não é fácil, mas necessário. A AEDO trouxe a possibilidade de cada cidadão registrar formalmente sua vontade de ser doador e comunicar isso à família”, destacou.
O terceiro painel discutiu “À espera de um milagre: transplantes e doação de órgãos no Brasil”, apresentado pela da Dra. Juliana de Oliveira Barbosa, médica nefrologista, responsável técnica da equipe de transplante renal e integrante das equipes de transplante de pâncreas e duplo pâncreas-rim.
O quarto painel teve como tema “Atuação do Hemocentro na Doação de Órgãos”, apresentado pela Dra. Ana Cristina Novais Mendes, biomédica, especialista em Gestão da Qualidade e diretora técnica da Rede de Serviços Hemoterápicos – Rede HEMO.
Além das palestras, profissionais e cidadãos que estavam no evento, aproveitaram a oportunidade para exercer sua cidadania e solidariedade ao próximo. A jornalista Agnes Geovana de Faria Batista, do TJGO, compartilhou sua decisão de registrar a AEDO. “Quando morremos, não doar é um ato de egoísmo, de não pensar no outro. Doar é deixar um legado vivo, muito além de um procedimento médico, é dar uma nova chance de vida.”
Para encerrar, histórias reais trouxeram emoção ao público. De um lado, a Família Receptora, representada por Márcia Paula Hilário Vaz Monteiro Mesquita, colaboradora do Tribunal de Contas. Ela foi diagnosticada com problemas renais aos 19 anos, realizou um primeiro transplante, onde o doador foi o seu irmão mais novo, porém após contrair COVID-19, o rim doado apresentou complicações, começando um novo capitulo que já dura quatro anos a espera por um novo rim. Ela destacou a importância da AEDO. “Foi uma grande surpresa conhecer a AEDO. Estou maravilhada e quero divulgar para que chegue a muitas pessoas. Doar órgãos é um gesto de amor. Tenho convicção de que o rim que eu receber continuará comigo e nas minhas futuras gerações, dando-me a chance de uma vida plena.”
De outro lado, a Família Doadora, representada por Rita de Cássia Gonçalves de Barros Oliveira, que perdeu o filho de forma precoce aos 19 anos de idade. Em meio à dor, a família disse “sim” à doação de órgãos. “É gratificante saber que, de alguma forma, pudemos ajudar outras famílias a dizer esse sim. Apesar do sofrimento, fico feliz em saber que meu filho se multiplicou em vidas salvas e transformadas, mostrando que sua breve existência não foi em vão.”
A enfermeira Neyuska Menezes Amaral, gerente de enfermagem do Hospital São Luís de Montes Belos, também emocionou ao relatar sua trajetória. “Antes de trabalhar no hospital de São Luís, fui enfermeira nefrologista em uma clínica de hemodiálise, acompanhando a luta diária da Márcia e de outros pacientes. Hoje, ver a Márcia Paula, tão ativa e engajada, compartilhar sua história aqui, foi tocante. O depoimento dela trouxe a visão do paciente e reforçou ainda mais a importância da doação. Já deixei registrada a minha AEDO.”
Durante o evento, os cartórios de notas realizaram a emissão da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO), ferramenta que permite a qualquer cidadão registrar sua vontade de salvar vidas.
Por Camila Braunas, Assessora de Comunicação do CNB/GO.