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Katiuscia Christiane Freitas, gerente de transplantes da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás falou com o CNB/GO

A Secretaria Estadual de Saúde de Goiás desempenha um papel fundamental na conscientização e no incentivo à doação de órgãos. Por meio de sua gerência de transplantes, a Secretaria organiza campanhas, palestras e treinamentos voltados à sensibilização da população sobre a importância desse gesto de solidariedade. O objetivo é educar a sociedade, promovendo o diálogo e o entendimento sobre como a doação de órgãos pode salvar vidas e, ao mesmo tempo, assegurar os direitos e desejos dos doadores.

Um dos maiores desafios enfrentados pela Secretaria no processo de captação de órgãos é a alta taxa de recusa familiar, que em Goiás chega a 65%. A falta de informação e o desconhecimento das famílias sobre o desejo de seus entes queridos em serem doadores são barreiras significativas. Nesse contexto, a AEDO (Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos) surge como uma ferramenta importante, permitindo que as pessoas registrem sua vontade de doar, facilitando a decisão familiar no momento oportuno.

Além disso, o cenário de doação de órgãos em Goiás tem apresentado avanços. Em 2023, o estado atingiu o maior número de doadores de sua série histórica, mas ainda há muito a ser feito. Com uma fila de espera que ultrapassa 2 mil pacientes, a Secretaria trabalha incansavelmente para aumentar a conscientização, melhorar a capacitação das equipes de saúde e garantir que o processo de doação e transplante ocorra de forma justa, segura e transparente, atendendo aos critérios rigorosos que asseguram a equidade no sistema de transplantes.

Para entender melhor sobre o assunto, o CNB/GO conversou com Katiuscia Christiane Freitas, Gerente de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Goiás, que explicou como funciona o processo de doação de órgãos e a importância desse ato para a sociedade.

Confira a entrevista na íntegra:

CNB/GO: Qual é o papel da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás na conscientização e incentivo à doação de órgãos?

Katiuscia Christiane: A Gerência de Transplantes é a unidade da Secretaria de Estado da Saúde responsável por organizar, coordenar e regular as atividades de doação e transplante no âmbito estadual. Como parte das atividades de educação e sensibilização ao incentivo à doação de órgãos, promove palestras, treinamentos e campanhas sobre o tema.

CNB/GO: Quais são os principais desafios enfrentados pela Secretaria no processo de captação e transplante de órgãos? Como a AEDO ajuda a enfrentá-los?

Katiuscia Christiane: O maior desafio ainda é a recusa das famílias. No Brasil, 45% das famílias não consentem com a doação de órgãos, enquanto em Goiás essa taxa chega a 65%. A falta de informação sobre o tema e o fato de os familiares desconhecerem qual seria o desejo de seu ente querido quando são abordados sobre a possibilidade da doação de órgãos e tecidos contribuem para a negativa familiar. Por isso, as campanhas incentivam que as famílias conversem em casa sobre o desejo de serem doadores, pois somente a família pode autorizar a doação após a morte.

A AEDO é uma plataforma recentemente instituída, que possibilita que as pessoas deixem registrado o desejo de ser doador, contribuindo para que as famílias possam respeitar essa decisão.

CNB/GO: Como está o cenário atual de doação de órgãos em Goiás?

Katiuscia Christiane: Em Goiás, no ano de 2023, atingimos o maior número de doadores da série histórica, com um total de 113 doadores. Entretanto, esse número representa apenas 33% dos pacientes que tiveram diagnóstico de morte encefálica e que poderiam ser doadores.

A lista de transplantes em Goiás possui atualmente cerca de 2.100 pessoas aguardando por um transplante. É importante destacar que Goiás realiza transplante de rins, fígado, pâncreas, córneas e medula óssea, e tem o Hospital Estadual Dr. Alberto Rassi como referência nos transplantes de órgãos sólidos, tendo realizado 98% dos transplantes neste ano de 2024.

CNB/GO: Quais são as principais dúvidas e mitos que a população ainda tem sobre a doação de órgãos?

Katiuscia Christiane: A doação de órgãos é um tema com muitos mitos e que gera muitas dúvidas. É fundamental esclarecermos essas questões que muitas vezes geram insegurança e hesitações. Nesse contexto, é essencial desmitificar algumas crenças que podem interferir na decisão de se tornar um doador.

Entre as dúvidas mais frequentes, podemos destacar: o desconhecimento sobre como ser um doador, a preocupação com a integridade do corpo, o receio de os órgãos serem removidos antes da morte da pessoa, além de dúvidas quanto a questões religiosas e também sobre a segurança do processo.

É importante ressaltarmos que o processo é muito seguro. O Brasil tem uma das legislações mais rigorosas do mundo para confirmar um diagnóstico de morte encefálica. Além disso, a retirada dos órgãos é um procedimento cirúrgico que não deixa deformidades no corpo.

Quanto às religiões, elas veem a doação de órgãos como um ato de compaixão e altruísmo, sendo considerada uma forma de amor ao próximo que salva vidas.

Enfim, é importante que essas dúvidas sejam esclarecidas para aumentarmos o número de doadores e, consequentemente, beneficiar quem espera na lista por um transplante.

CNB/GO: Qual é a importância da formação e treinamento das equipes médicas e de apoio no sucesso das ações de doação de órgãos?

Katiuscia Christiane: O treinamento das equipes médicas é fundamental para um melhor acolhimento da família e compreensão do processo de diagnóstico de morte encefálica. A Central de Transplantes tem promovido cursos de capacitação em determinação de morte encefálica para médicos da rede pública e privada de todo o Estado.

Além disso, promovemos o treinamento das equipes multiprofissionais e das Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos (Cihdott’s).

CNB/GO: Poderia nos falar sobre as principais ações que estão sendo realizadas neste Setembro Verde para aumentar a conscientização sobre a doação de órgãos?

Katiuscia Christiane: No mês de setembro, alusivo à conscientização da doação de órgãos, estamos promovendo diversas ações de sensibilização, como campanhas nas redes sociais, palestras para profissionais de saúde e público em geral, divulgação nos jogos de futebol dos principais times de Goiás, adesão de diversas instituições públicas e privadas que iluminaram as fachadas de verde em prol da campanha, além da realização de uma blitz de sensibilização na região central no dia 27 de setembro, em parceria com o Detran, e do terceiro passeio ciclístico no dia 29 de setembro.

CNB/GO: Qual é o papel das famílias no processo de doação, e como a Secretaria de Saúde e a AEDO trabalham para garantir que os desejos dos doadores sejam respeitados?

Katiuscia Christiane: A família tem o poder de decisão para autorizar a doação de órgãos. Entretanto, é muito importante que ela tenha o conhecimento de qual seria o desejo de seu familiar. Por isso, a importância de conversar em casa sobre esse assunto.

Além disso, agora temos disponível a AEDO, que possibilita aos profissionais da Central de Transplantes o acesso à plataforma para verificarem se a pessoa fez o registro em vida. Com isso, é possível apresentar esse registro para a família, para que possam tomar a decisão respeitando a vontade do familiar.

CNB/GO: Como a Secretaria de Saúde garante que os receptores nas listas de espera sejam atendidos de forma justa e transparente?

Katiuscia Christiane: Existe um sistema informatizado de gerenciamento da lista de transplantes, que gera a seleção dos receptores através de critérios de compatibilidade sanguínea, imunogenética e parâmetros antropométricos, além dos critérios de gravidade. Esse sistema cruza diversas variáveis entre doador e receptor, gerando a seleção de forma justa e segura.

Assessoria de Comunicação do CNB/GO.

“65% Das Famílias Goianas Ainda Não Consentem Com A Doação. Precisamos Ampliar O Diálogo Sobre O Tema Em Casa”
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