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O CNB/GO conversou com Katiuscia Christiane Freitas, Gerente de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás sobre a realização de transplantes no estado

A implementação da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO) representa um marco significativo na busca por melhorias no processo de doação de órgãos, não só em Goiás, mas em todo o Brasil. Esta iniciativa, fruto da colaboração entre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Colégio Notarial do Brasil – Conselho Federal (CNB/CF), visa simplificar e agilizar a decisão em relação à doação de órgãos, enfrentando desafios que há muito tempo afetam o sistema de transplantes no país.

Atualmente, o processo de tornar-se doador de órgãos no Brasil requer uma manifestação explícita à família, que detém o poder de decisão e autorização de acordo com a legislação vigente. No entanto, a falta de conhecimento sobre a vontade do indivíduo em relação à doação muitas vezes resulta em altas taxas de recusa familiar, o que resulta no aumento da fila de pessoas que esperam por uma doação de órgãos.

Com a introdução da AEDO, indivíduos têm a oportunidade de registrar formalmente sua intenção de serem doadores, fornecendo às famílias um guia claro em momentos de angústia e tomada de decisão. Em Goiás, aproximadamente 62% das famílias recusam a doação de órgãos, a implementação da AEDO pode representar uma mudança significativa, oferecendo uma via para que os familiares conheçam e respeitem o desejo do ente querido.

Apesar dos esforços contínuos de campanhas de conscientização e treinamento de profissionais de saúde, Goiás enfrenta desafios persistentes em relação à doação de órgãos, incluindo a elevada taxa de recusa familiar. No entanto, com a introdução da AEDO, há uma expectativa otimista de que a comunicação e compreensão entre familiares e o ente que deseja ser um doador possam ser melhoradas, potencialmente aumentando o número de doadores e salvando vidas.

Para entender melhor os desafios enfrentados em relação à doação de órgãos em Goiás, o CNB/GO, conversou com Katiuscia Christiane Freitas, Gerente de Transplantes da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás, que forneceu uma visão abrangente do cenário atual e das perspectivas futuras, em relação ao assunto, após a implementação da AEDO e seu potencial impacto na eficiência e agilidade do processo de doação de órgãos em Goiás.

Confira a entrevista na íntegra:

CNB/GO: Como a implementação da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos pode melhorar a eficiência e agilidade do processo de doação de órgãos em Goiás?

Katiuscia Christiane: A Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos é uma iniciativa do Conselho Nacional de Justiça em parceria com o Colégio Notarial do Brasil, com o propósito de facilitar o processo de decisão em relação à doação de órgãos. Atualmente, no país, para se tornar um doador, é necessário manifestar essa vontade à família, uma vez que, de acordo com a legislação brasileira, cabe a ela a decisão e autorização para a doação, sendo responsável por assinar os documentos necessários.

No entanto, é sabido que a maioria das famílias não autoriza a doação de órgãos, havendo uma alta taxa de recusa familiar, principalmente devido ao desconhecimento por parte delas quanto ao desejo do seu familiar em ser um doador. Ou seja, muitas famílias não têm conhecimento se a pessoa desejava ou não ser um doador.

Com o registro da AEDO, as pessoas poderão manifestar sua vontade de serem doadoras de órgãos. Isso possibilitará que, mesmo em momentos extremamente difíceis, de grande dor, as famílias possam decidir com mais facilidade sobre a autorização da doação de órgãos, uma vez que haverá um registro contendo a vontade da pessoa.

Atualmente, em Goiás, aproximadamente 62% das famílias recusam a doação de órgãos. A iniciativa de permitir que as pessoas registrem e manifestem sua vontade pode trazer o benefício de que seus familiares tenham conhecimento de seu desejo. Isso porque, hoje em dia, muitas vezes, falar sobre doação de órgãos em casa é um tabu, não sendo um assunto que as pessoas queiram abordar. Deixar essa vontade registrada pode contribuir para que a família conheça o registro deixado pelo ente querido, declarando sua vontade. Dessa forma, as famílias poderão ter consciência disso e contribuir para o aumento do número de doadores.

CNB/GO: Quais são os principais desafios enfrentados em relação à doação de órgãos em Goiás?

Katiuscia Christiane: O principal desafio hoje em Goiás, em relação à doação de órgãos, é o alto índice de recusa das famílias. Para reduzir essa recusa, o estado tem feito campanhas de conscientização, principalmente no mês de setembro, que é dedicado à campanha da doação de órgãos. Mas durante todo o ano, são promovidas palestras para entidades públicas, privadas, igrejas, escolas e instituições de ensino. Também temos alguns projetos para este ano com as instituições escolares.

Além disso, há o treinamento dos profissionais de saúde, onde eles são orientados sobre como abordar a família, introduzir o assunto da doação e ter uma comunicação efetiva, pois o diagnóstico de morte encefálica é de difícil entendimento. Todas essas ações fizeram com que Goiás atingisse um número recorde de doações de órgãos. Pela primeira vez na história, foram 103 doadores no ano de 2023. O número máximo que havíamos atingido antes era de 89, porém ainda seguimos com esse alto índice de rejeição por parte das famílias.

CNB/GO: E quais são as expectativas futuras, agora com a Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos?

Katiuscia Christiane: Acredito que sim, pois é uma iniciativa do CNJ e do Colégio Notarial que vai facilitar o entendimento da família sobre o desejo do seu familiar de ser doador, o que é muito válido. Hoje, nossas campanhas trabalham para que as famílias conversem em casa sobre o assunto, então é importante ter esse registro e comunicar isso aos familiares. Não adianta apenas fazer o registro, é preciso deixar claro o desejo de ser doador de órgãos. Dificilmente uma família, diante desse desejo registrado e expresso, irá contra a vontade dessa pessoa.

CNB/GO: Quais são os tipos de transplantes mais comuns realizados em Goiás? Há alguma área específica que esteja em maior demanda ou necessidade?

Katiuscia Christiane: Goiás realiza transplantes de rins, fígado, córneas, medula óssea, pâncreas e também transplante musculoesquelético. Atualmente, aqui no estado, há cerca de 2000 pessoas aguardando na lista. Em todo o país, são cerca de 60 mil pessoas que aguardam por um transplante. A nossa maior lista hoje é de pessoas que aguardam um transplante de córneas, sendo cerca de 1.500, e cerca de 490 aguardam por um transplante de rins.

CNB/GO: Qual é o papel da Gerência de Transplantes em relação ao acompanhamento dos pacientes transplantados após o procedimento?

Katiuscia Christiane: A Gerência de Transplante coordena toda a parte do processo de doação e transplante no estado. Temos hoje três unidades que ficam dentro dos maiores hospitais de urgência do estado, que são o Hugo e o Hugol em Goiânia, e o Heana em Anápolis. Essas unidades se chamam Organizações de Procura de Órgãos, onde há profissionais que fazem o acompanhamento de todo o processo de morte encefálica, validam esse processo para que tudo esteja em conformidade com a legislação, conversam com as famílias sobre a possibilidade da doação e participam das captações de órgãos.

Nós também fazemos a distribuição e o encontro de receptores compatíveis junto com a central nacional de transplantes, e temos uma equipe que faz essa parte do monitoramento do pós-transplante. Existe todo um cuidado em saber como o paciente está após o procedimento. Então, nós credenciamos todas as unidades que realizam transplantes. Elas têm que ser credenciadas e autorizadas a realizar essa ação. Todo esse processo passa por nós, então tudo relacionado ao processo de doação e transplante no estado passa pela gerência de transplante.


Camila Braunas

Assessoria de Comunicação do CNB/GO

Avanços E Desafios: A Implementação Da Autorização Eletrônica De Doação De Órgãos Em Goiás
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